Brasil: Sobre o Dia Nacional de Luta em 30 de agosto

Burocracia das Centrais Sindicais coloca o limite das Resistência do Trabalhadores com Ações Simbólicas

 

por El Mundo Socialista e  www.thecommunists.net    (RCIT), http://elmundosocialista.blogspot.co.at/2013/09/brasil-sobre-o-dia-nacional-de-luta-em.html

 

 

 

Em 30 de agosto, aconteceu no Brasil o "Dia Nacional de Mobilização e Lutas". Ele foi chamado por oito Federações Sindicais (CUT, CSP-Conlutas, Força Sindical, UGT, CGTB, NCST, CGTB, CTB e CSB). O protesto foi contra vários projetos reacionários do governo federal e do parlamento:

 

* Para aumentar e formalizar a terceirização dos contratos de trabalho (Projeto de Lei 4330).

 

* O "Fator Previdenciário" (que mexe no direito a aposentar protelando a idade.

 

* O plano do governo de leiloar áreas com dois terços das reservas comprovadas de petróleo do país em outubro.

 

No entanto, este "Dia Nacional de Mobilização" acabou por ser uma ação bastante simbólica e fraca. Limitou-se a algumas marchas e ocupações de estradas em várias capitais e cidades de médio porte. Essas ações foram todos anunciadas com antecedência e duraram apenas algumas horas e não causou muita preocupação ao Governo Federal. Foi muito mais fraco em comparação com a greve geral de um dia em 11 de julho, o qual aconteceu sob a pressão da espontânea revolta em massa acontecida no Brasil neste inverno. (1) Deve-se notar que mesmo a greve geral no dia 11 de julho foi desmobilizada pela burocracia sindical e foi mais simbólica do que militante. (2)

 

Fraca Mobilização em São Paulo

 

Essas fraqueza do Dia de Ação também era visível no estado de São Paulo que é o maior e mais rico estado do Brasil. Semelhante à greve geral no dia 11 de julho, os setores mais importantes ligados à CUT (a maior federação sindical ligada ao partido do governo, o PT social-democracia), tais como o sector dos transportes públicos na capital e os metalúrgicos do ABC -região, trabalharam normalmente. No ABC Eles só bloquearam a estrada que leva ao Porto de Santos. A única maior mobilização dos sindicatos ocorreu no centro financeiro de São Paulo - a Avenida Paulista - na parte da tarde.

 

A CSP-Conlutas - uma menor, mas a maior Central Sindical mais à esquerda, ligada ao PSTU centrista (secção mais forte do morenista LIT-FI) - acusa em seu site que a CUT só tardiamente entrou no "Dia Nacional de Mobilização", a fim de boicotar o movimento. De fato, dois dos setores mais importantes dos sindicatos da CUT em São Paulo - os trabalhadores bancários e os trabalhadores do metrô - se comprometeram a participar da greve. O sindicato dos trabalhadores bancários declararam em um comunicado que a greve duraria 24 horas. Mas, inexplicavelmente, ambos os sindicatos desistiram e trabalharam normalmente. Bem, não exatamente inexplicável, pensamos que a burocracia da CUT em São Paulo tem muito medo de perder o controle da base de seus trabalhadores. Imaginem o caos em uma cidade de mais de 10 milhões de pessoas que a maioria deles usa diariamente o transporte misto (ônibus e metrô) para ir ao trabalho, no caso de uma greve! Assim, os burocratas preferiram evitar problemas como a perda de controle, os danos políticos para o governo federal, o surgimento de novas lideranças de trabalhadores, etc.

 

Mais ações militantes no Rio de Janeiro

 

No Rio de Janeiro a situação foi um pouco diferente. Isso está relacionado ao fato de que o governador Sergio Cabral (PMDB-) é altamente impopular e acusado de autoritarismo e abuso de usar helicópteros públicos para seu lazer pessoal. Como resultado protestos massivos contra ele têm acontecido nos últimos dias, que são um reflexo dos dias de junho. Perante este cenário, o protesto em 30 de agosto foi muito mais eficaz no Rio de Janeiro. Trabalhadores de diversos setores da economia participaram, como metalúrgicos e construção, vidros, funcionários públicos federais, varredores, trabalhadores de saúde, enfermeiros, manicures, professores, trabalhadores do setor de alimentos, servidores da UFRJ, químicos, engenheiros, bancários, telecomunicações, bem como petroleiros, servidores militares, funcionários de transporte de água, jornalistas, radialistas e eletricistas, bem como os movimentos sociais, como o MST (Movimento dos trabalhadores Rurais Sem Terra).

 

Outros estados importantes, como Minas Gerais, Pará e Paraná alcançaram um forte apoio entre os trabalhadores do setor público, os trabalhadores dos transportes e os trabalhadores terceirizados.

 

Outro setor importante da CUT - os trabalhadores do setor de petróleo - também exibiram ações mais militantes em 30 de agosto, em lugares importantes, como Pernambuco, Bahia, Minas Gerais, Duque de Caxias, São Paulo, Paraná / Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Esta ampla participação dos trabalhadores do petróleo é explicada pelo fato de que eles estão atualmente envolvidos na campanha salarial.

 

O governo do PT liderado pela presidente Dilma Rousseff tenta dividir as Centrais sindicais, oferecendo negociações separadas com a burocracia CUT. Este foi provavelmente um incentivo adicional para os dirigentes da CUT boicotarem o "Dia Nacional de Mobilização" em 30 de agosto.

 

As outras Centrais não são melhores. A direção da Força Sindical - outra federação sindical que tem fortes ligações com os grandes empresários de São Paulo - demonstra uma vez mais o seu papel como um lacaio dos capitalistas. Em suas demandas sobre o governo de Dilma Rousseff, ele se concentra em oposição contra qualquer aumento nas taxas de juros, que também é uma exigência central dos empresários.

 

Libertar os Sindicatos das garras dos burocratas

 

A revolta espontânea durante os Dias de Junho, os protestos de trabalhadores em 11 de Julho e 30 de Agosto mostraram mais uma vez o verdadeiro caráter da burocracia sindical. É uma casta pequeno-burguesa nas fileiras do movimento operário, que serve à classe capitalista e que é corrompida por cargos e privilégios. Eles não estão interessados em mobilizações militantes da classe trabalhadora sob o controle das bases. Eles organizam mobilizações somente sob a pressão das bases e, nesses casos, eles fazem todo o possível para manter essas atividades sob o seu controle burocrático. (3)

 

É por isso que uma das tarefas mais importantes da vanguarda dos trabalhadores é a construção de um amplo movimento de massa e de base dos sindicatos contra os burocratas. Nós só podemos transformar os sindicatos em verdadeiros instrumentos da classe trabalhadora, se os trabalhadores libertarem os sindicatos das burocracias. Essa perspectiva tem de ser combinada com uma estratégia que combina a luta defensiva contra os ataques dos patrões junto com a luta pela derrubada do capitalismo. Tal perspectiva também tem de se concentrar em reunir os militantes sindicais com os trabalhadores desorganizados, os pobres urbanos nas favelas, os camponeses pobres e sem terra e os jovens que mostraram a sua militância nos Dias de Junho.

 

É por isso que é urgente para a vanguarda dos trabalhadores em elaborar e discutir um programa de ação para a revolução socialista no Brasil.

 

Este programa também deve enfrentar o fato de que as lideranças sindicais no Brasil são em sua maioria ligados a partidos como o PT, o PCdoB stalinista, PSOL (uma divisão da PT), PSTU e PDT (herdeiros do getulismo, ou seja, do ex-ditador Getúlio Vargas). Nenhum desses partidos, no entanto serve aos interesses da classe trabalhadora. Para afastar a influência nos sindicatos destes partidos e para construir um partido de trabalhadores, porém que seja baseado em um programa revolucionário é, portanto, uma das tarefas mais importantes para os trabalhadores de vanguarda. El Mundo Socialista e a     Tendência Comunista Revolucionária Internacional estão dedicando suas forças para contribuir para este objetivo.

 

 

 

Notas de rodapé:

 

(1) Veja em: Brazil: Solidarity with the Popular Uprising! Statement of the RCIT and Blog El Mundo Socialista (Brazil), 19.6.2013, www.thecommunists.net/worldwide/latin-america/brazil-solidarity-with-popular-uprising and www.thecommunists.net/home/portugu%C3%AAs/brasil-solidariedade-com-a-revolta-popular (in Portuguese); The Fight for the Right to Public Transportation - Free and With Quality - Under Control of Workers in Brazil, 14.6.2013, El Mundo Socialista, www.thecommunists.net/worldwide/latin-america/brazil-fight-for-public-transportation

 

(2) Veja: Brazil: Before the General Strike on 11th July, El Mundo Socialista, www.thecommunists.net/worldwide/latin-america/brazil-general-strike-on-11-7

 

(3) On the RCIT’s assessment of the trade union bureaucracy’s nature see the relevant chapter in the RCIT’s Program The Revolutionary Communist Manifesto, www.thecommunists.net/rcit-manifesto/the-struggle-for-the-unions