França: defender o Movimento "Coletes Amarelos" contra a Repressão do Estado!

 

Construir comitês de ação locais! Pressionar os sindicatos a se juntarem ao Movimento! Organizar uma greve geral Por Tempo Indeterminado!

 

Declaração do Secretariado Europeu da Corrente Comunista Revolucionária Internacional (CCRI), 03.12.2018, www.elmundosocialista.blogspot.com.br e www.thecommunists.net

 

 

 

1.             A França está sendo abalada durante semanas por uma série de protestos em massa que estão cada vez mais sendo transformados em tumultos violentos. Trata-se de uma rebelião em massa espontânea-chamada de Movimento dos "Coletes Amarelos" por causa de seus coletes de alta visibilidade que todos os motoristas são obrigados por lei a vestirem em seus veículos-eclodiu em 17 de novembro último protestando contra o aumento dos impostos do diesel. Também denunciando os crescentes custos de vida e a diminuição do poder aquisitivo, o movimento está cada vez mais clamando pela demissão do Presidente do país, Emmanuel Macron.

 

2.             Enquanto Macron alega aumentar o imposto por razões ecológicas, na verdade, essas medidas fazem parte da política de austeridade neoliberal do governo, que ataca a classe trabalhadora e os setores de baixa classe média. Não é, portanto, surpreendente que o movimento se concentre em áreas rurais e periferias urbanas, onde as pessoas dependem fortemente de seus carros, porque o transporte público está mal servido.

 

3.             Os "Coletes Amarelos" tornaram-se um movimento de massa mobilizando centenas de milhares de pessoas a cada semana. De acordo com as pesquisas, entre 72% e 86% da população apóia essas exigências, ao mesmo tempo em que a popularidade de Macron foi conduzida a um nível ainda mais baixo. Manifestantes bloquearam estradas em toda a França e impediram o acesso a certos shoppings, aos depósitos de combustível e aeroportos. Ao mesmo tempo em que o governo fez ofertas vazias para realizar negociações, o governo neoliberal está cada vez mais se movendo para a repressão brutal contra o movimento. No sábado, 1 de dezembro, a polícia relatou que prendeu mais de 400 pessoas, mais 133 feridos em Paris. Cerca de 10.000 latas de gás lacrimogêneo e bombas de dispersão foram disparadas, assim como foram lançados canhões com jatos de água. Após estes confrontos, o porta-voz do governo Benjamin Griveaux indicou que a administração de Macron estava considerando impor um estado de emergência.

 

4.             O movimento dos "Coletes Amarelos" representa uma rebelião em massa espontânea dos trabalhadores e dos estratos inferiores da classe média. Está sendo mobilizada através de redes sociais e ao mesmo tempo existe uma falta de estruturas locais organizadas. Seus líderes não fazem parte de partidos políticos, nem mesmo são ativistas políticos de longa data, mas sim são pessoas que parecem ter sido acidentalmente empurradas para a luta de vanguarda. Refletindo a desconfiança generalizada contra os partidos e sindicatos estabelecidos, o movimento rejeita a presença das bandeiras sindicais e partidárias durante as manifestações (isso se assemelha a fenômenos semelhantes, como os setores libertários do movimento Antiglobalização no início do ano 2.000 ou protesto contra os aumentos de preços dos bilhetes de transporte público no Brasil em 2013). No Departamento Ultramarino de Reunião, uma colônia francesa no Oceano Índico, com uma população majoritária de grupos de ascendência africana, Indiana, malgaxe e chinesa, bem como uma minoria branca, os protestos já se transformaram em semi insurgência, então o governo impôs um estado de sítio. Embora o movimento seja claramente um movimento popular dominado pelos trabalhadores e pela classe média baixa, seu caráter politicamente confuso, sua falta de estruturas democráticas locais e nacionais e sua rejeição da participação de Sindicatos e partidos de esquerda dão-lhe um caráter populista bastante cru. No entanto, é um movimento de massa populista pequeno-burguês, impulsionado pela oposição à política de austeridade neoliberal do governo ("Macron é um presidente dos ricos” é um slogan popular) e com objetivos legítimos e progressistas, assim como fazendo a oposição contra a maioria dos impostos sobre o diesel ou clamando pela renúncia de Macron.

 

5.             Vergonhosamente, os líderes reformistas dos sindicatos da CGT (próximos do Partido Comunista Francês), assim como o CFDT (próximo do partido "socialista”) se recusam a apoiar o movimento ou até mesmo suas reivindicações! No entanto, muitas filiais locais da CGT e outra grande Federação sindical (FO) apóiam as demonstrações. Importantes partidos de esquerda, como a França Insubmissa liderada por Jean-Luc Mélenchon (que recebeu quase 20% nas últimas eleições presidenciais), o NPA, LO, bem como outros também apóiam o movimento.

 

6.             Entretanto, partidos oposição de direita como os Conservadores e os Republicanos, mas também os partidos racistas tais como Rassemblement National (a União Nacional) de Marine Le Pen assim como os fascistas estão tentando também se infiltrar e explorar o movimento popular de massa. Muitos ativistas do movimento estão indignados pelas tentativas de infiltração destas forças reacionárias e houve um número de casos onde as pessoas foram pra cima dos tais racistas e os expulsaram. No entanto, estas tentativas continuam e representam um grande perigo para o movimento! Isso mostra como é importante construir estruturas democráticas locais e nacionais e cancelar a proibição da participação aberta dos sindicatos e dos partidos (tal cancelamento tornaria mais difícil para os grupos de direita se infiltrarem secretamente no movimento.)

 

7.             As mídias (imprensa) liberais pró-governo estão tentando retratar o movimento como um grupo de tolos que são manipulados por “extremistas de direita e de esquerda e hooligans". Setores da esquerda acadêmica em Paris (assim como da esquerda européia) compartilham esse sentimento. Eles denunciam esse movimento popular como "reacionário" e se recusam a apoiá-lo. Obviamente, esses "esquerdistas" acadêmicos são tolos inúteis que tratam as massas politicamente cruas com desprezo. Eles não são menos criminosos do que a liderança reformista da CGT. Em vez de apoiar o protesto legítimo do povo contra a austeridade neoliberal e a luta dentro do movimento bruto e confuso de massa contra as forças de direita, estes reformistas e centristas tolos preferem olhar arrogantemente para as pessoas e deixar o campo para as forças reacionárias! Pode afirmar que este movimento não se degenere e que as forças direitas podem ter sucesso em obter controle sobre o movimento? Não. Mas é uma visão pessimista do futuro e não reflete a situação atual! E se tal degeneração fosse acontecer no futuro, seria culpa não do povo, mas da liderança reformista dos sindicatos e da esquerda que não poderiam intervir energicamente em um movimento popular de massa espontânea tão impressionante!

 

8.             A CCRI propõe a seguinte perspectiva para uma intervenção revolucionária no movimento dos "Coletes Amarelos":

 

Parem a repressão estatal!

 

Criar comitês de ação democrática em nível local e uma conferência nacional dos delegados desses comitês locais!

 

Retirar a proibição da participação de sindicatos e partidos!

 

Pressionar a CGT e outros sindicatos a participarem ativamente no movimento!

 

Por uma frente unida de todos os trabalhadores e organizações de migrantes (sindicatos, LFI, NPA, LO etc), a fim de isolar e perseguir os provocadores de direita dentro do movimento!

 

Qualquer negociação entre os líderes do movimento e do governo deve ser transmitida ao vivo na Internet para que eles sejam transparentes!

 

Por uma greve geral Por Tempo Indeterminado-organizada pelo movimento de massa e pelos sindicatos! Pela a criação de comitês de auto-defesa para defender o movimento contra a polícia e os provocadores!

 

9.             A CCRI está ansiosa por colaborar com ativistas revolucionários na França com base nessa perspectiva.

 

 

 

Para a nossa análise da França, remetemos os leitores a vários documentos do CCRI que publicamos no nosso site na secção Europa https://www.thecommunists.net/Worldwide/Europe/

 

Em particular, chamar a atenção para:

 

CCRI: https://www.thecommunists.net/home/portugu%C3%AAs/france-pour-la-greve-generale/

 

Manfred Maier: France: Down with the decrees of the Macron/Philippe government! 17.08.2017, https://www.thecommunists.net/worldwide/europe/france-macron-s-labor-bill/

 

CCRI: Fight Macron's Labor Bill: Time to shake France to its very foundations! 28th August 2017, https://www.thecommunists.net/worldwide/europe/fight-macron-s-labor-bill/

 

CCRI: Presidential Elections in France: Neither Le Pen nor Macron! 05.05.2017, https://www.thecommunists.net/worldwide/europe/france-neither-le-pen-nor-macron/